O que eu vou lhes contar ouvi de alguém, na verdade esse amigo que me contou, viu uma situação que achou um verdadeiro absurdo. Um abuso, para ser mais específico. O fato é que ele estava em um restaurante dia desses, sentado, almoçando, e viu, em um canto, um casal. À princípio não percebeu nada de estranho, diferente, naqueles dois.
Contudo, quando ele levantou seu olhar, mastigando algo que não recordava, deu de encontro com os olhos da mulher, e ela, pasmem, meus queridos leitores, chorava. Sim, aquela mulher, que segundo relatou o meu amigo, loira de cabelos longos, derramava lágrimas.
Esse meu amigo, até prefiro não citar o nome, achou aquela situação estranha, e começou a observar o que estava acontecendo. Notou que o rapaz que estava com ela falava algo, muito baixo, a ponto de não conseguir ouvir. Mas a mulher, pobre coitada, essa sim, ouvia, e pelo visto, não gostava do que ouvia.
Deixando o almoço esfriar, esse meu amigo viu aquele rapaz, que não tinha mais de 25 anos, apontando o dedo para o rosto da mulher, tão jovem quanto ele. Sim, ele apontava o dedo como se dissesse: “Escute, estou falando contigo”, pois nesse momento ela estava com os olhos virados para a mesa.
Com certeza era uma discussão entre um casal. Com certeza aquele rapaz estava mostrando que ele é quem manda na relação, sem dúvida alguma por algum motivo, que pode até ser sagaz, daqueles bem banais, foi o motivo daquela conversa, ou seria uma discussão, quem sabe, em uma mesa de restaurante.
O fato final é que meu amigo percebeu a mulher sair sozinha, quase correndo, com as bochechas vermelhas, e os olhos em lágrimas, pela porta do restaurante. E sim, o rapaz ali ficou sentado, parecia furioso, estava com o rosto todo vermelho também, a ponto de explodir. Esse, assim que a mulher saiu pela porta, levantou-se e foi ao caixa, próximo de onde meu amigo estava.
Chegou para o senhor que estava atendendo naquele dia e esbravejou: “Não sei como essas mulheres de hoje em dia não aprendem que quem manda somos nós, os homens!” Pagou a conta e se retirou, deu-lhe uma olhada, com um sorriso de satisfação, como se ele soubesse que o meu amigo, aquele pobre homem que deixara seu almoço esfriar, entreouviu tudo o que ocorreu em sua mesa.
E aí, só para terminar nosso papo, pedi para meu amigo se ele ou o senhor que atende o restaurante falaram algo para aquele homem. E ele me respondeu que não, pois o silêncio para esse tipo de situação, para homens como aquele, machistas ao ponto de pensarem que ainda vivem no século XIX, é o silêncio. Eu, amigos leitores, já penso diferente, quanto mais nos calarmos, homens e mulheres, existirão seres abomináveis como aquele ser, que eu não conheço, e sinceramente, prefiro não conhecer. Mas me calar diante disso? Jamais... Nota-se por essa crônica, redigida às pressas, afinal de contas, tenho muito trabalho a fazer...
Rodrigo Toigo